terça-feira, 8 de agosto de 2017

Reforma agrária na Paraíba perde seu maior ícone cultural com morte de Zabé da Loca


Zabé da Loca


A agricultora e artista popular Zabé da Loca, reconhecida nacionalmente, sobretudo por sua participação em eventos da agricultura familiar como tocadora de pífanos, morreu no sábado (5), aos 93 anos, de causas naturais, na cidade de Monteiro, no Cariri paraibano. Com a morte da artista, que era beneficiária da reforma agrária e vivia no assentamento Santa Catarina, a Prefeitura de Monteiro decretou luto oficial por três dias. Nos últimos anos, Zabé lutava contra a doença de Alzheimer.

Isabel Marques da Silva nasceu em Buíque, em Pernambuco, e ganhou o apelido “Zabé da Loca” por morar com a família em uma gruta de pedra (loca) por mais de 25 anos.

No sábado, o velório da pifeira foi realizado na casa da família e no Memorial Zabé da Loca, no assentamento Santa Catarina, a cerca de 320 quilômetros de João Pessoa; e, no domingo, no Centro Cultural de Monteiro, com a presença de familiares, amigos, admiradores e de uma banda de pífanos.

Trajetória

Zabé da Loca aprendeu a tocar pífano aos sete anos, com o irmão Aristides, e desde então não parou mais. Além de ter participado de eventos por toda a Paraíba, a artista popular fez apresentações em Natal (RN), Recife (PE), Fortaleza (CE), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e em Brasília (DF). Zabé mostrou sua arte principalmente em eventos ligados à agricultura familiar, como a Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária.
A carreira artística começou em 2003, quando Zabé, aos 79 anos de idade, ainda morava na gruta. O talento da agricultora foi descoberto pelo Projeto Dom Helder Câmara (PDHC), do então Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), durante uma atividade do programa de bibliotecas rurais Arca das Letras. No mesmo ano, ela gravou seu primeiro CD, Canto do Semiárido, com composições próprias e uma versão de Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
O segundo CD de Zabé da Loca, Cantos do Semiárido, foi lançado durante uma apresentação na comunidade do Leitão de Carapuça, em Afogados da Ingazeira (PE). Entre as pessoas na plateia estava o então ministro da Cultura, Gilberto Gil. No mesmo ano, ela recebeu o prêmio “Mulher Forte 2003 Ana Maia”, em João Pessoa, onde também recebeu o título de Cidadã Paraibana.
Apresentou-se em 2004 no Fórum Cultural Mundial, ao lado de Hermeto Pascoal. Em 2008, gravou o CD Bom Todo – Zabé da Caverna para o Mundo, lançado no ano seguinte no Sesc Pompéia, em São Paulo. Ainda em 2008, recebeu a Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura. Também foi eleita, aos 85 anos, “Revelação da Música Popular Brasileira”, no Prêmio da Música Brasileira de 2009.
Em 2011, Zabé da Loca foi tema de matéria especial do Globo Rural, que viajou até Monteiro para contar a sua história.

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