terça-feira, 20 de março de 2018

Agricultura e o planeta água

Por:
     

                                                                                                                                        
Sete bilhões e seiscentos milhões de pessoas disputam recursos naturais, como terras aráveis e água, cada vez mais escassos. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, cerca de 1 bilhão de pessoas  sofrem em estado de miséria. O Brasil não está livre do mapa da fome: o drama atinge 6% da população, isto é, 12 milhões de pessoas.

O tema água, da mesma forma, mobiliza estudiosos, legisladores e gestores públicos.  A partir deste domingo, dia 18, e durante a próxima semana, representantes de dezenas de países estarão em Brasília para o oitavo Fórum Mundial. Suas propostas para mitigar a escassez têm o Brasil como o melhor paradigma do problema: embora o país detenha 12% de toda a água doce do planeta, 80% está na Amazônia, onde residem somente 15% dos brasileiros.
Especialistas estimam que cerca de 70% da água consumida no planeta destina-se à agricultura. Meio ambiente é um dos flancos pelo qual a atividade agrícola é frequentemente questionada. O Fórum Mundial será o plenário oportuno para se rever essa visão pouco consistente.
Hoje reverenciada como a fatia bem-sucedida do PIB brasileiro, poucas décadas atrás a produção agropecuária desconhecia avanços que já aceleravam o agribusiness mundial. Produtividade, por aqui, era palavra pronunciada por poucos agrônomos e acadêmicos.

Compare-se a produtividade da mão-de-obra, em 1975: nos Estados Unidos, 3,6 milhões de trabalhadores geravam alimentos para 200,7 milhões de norte-americanos e excedentes exportáveis da ordem de 13 bilhões de dólares; o Brasil, então com o triplo da mão-de-obra rural – 12 milhões de trabalhadores –, colhia para a população de 100 milhões e as exportações agrícolas mal chegavam a 4 bilhões de dólares.
Eram tempos que os bois ocupavam o pasto por cinco anos; da vagareza do plantio a arado; da tentativa de eliminar a saúva e plantas daninhas à base de enxada – claro, com resultados pífios. O que explicava o país precisar importar alimentos básicos para o consumo, tais como arroz, carne, milho e trigo.
O portentoso desempenho atual demonstra que a agricultura trilhou o caminho, ainda que tardiamente, de nações que galgaram estágio superior em suas economias pelo fator tecnológico. Inclusive na agricultura,  equivocadamente relegada por alguns teóricos a papel secundário no desenvolvimento.

Ademais, a revolução que transformou a lavoura arcaica num dos mais bem-sucedidos agronegócios do mundo o conseguiu, em grande parte, de forma sustentável. À luz da ciência, é o que aponta estudo do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica, GITE, da Embrapa: a agricultura ocupa apenas 8% do território nacional e pastagens 19,7%; 61% de vegetação nativa estão preservados.
A crise hídrica tem gerado novas posturas na população para economizar de água; moradores de Brasília convivem, há um ano, com o racionamento nos lares e no comércio. Por outro lado, a escassez dá margem à pregação preservacionista, pouco científica. Bem-intencionada,  porém equivocada ao incorporar a visão da “natureza intocável”.
Seus ativistas renegam o manejo conservacionista, cuja intervenção na natureza está a serviço das pessoas e da melhoria da qualidade de vida – casos, por exemplo, de uma hidrelétrica, da agropecuária e das indústrias de alimentos.
O uso consciente dos recursos hídricos pelas pessoas e organizações deve ser não apenas incentivado, mas exigido e, de forma tecnicamente sensata, regulado. Mas são impensáveis ideias como declarar a “moratória da água”, já veiculada por certas ONGs.

Portanto, é inequivocamente necessário que os recursos naturais sejam conservados. Não por mero tributo à natureza mas, sobretudo, por serem imprescindíveis às sociedades, às pessoas.

Nenhum comentário: