terça-feira, 15 de maio de 2018


Pecuária

Produção de ovos cresce mas cai a de carnes e leite

Produção nacional resulta num consumo de apenas 35 ovos “per capita” por ano, muito abaixo dos índices recomendados
     
A produção de ovos cresceu 66 por cento e a agrícola 10,3, enquanto a de carnes e leite caiu em 3,00 e 16 por cento no ano passado, face a 2016, anuncia um relatório de balanço produzido pelo Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA).  O documento considera que estes números demonstram que, apesar do crescimento nalguns segmentos, a produção está longe de satisfazer a procura interna. 

Por exemplo, naquele período, produziram-se 961,650 milhões de ovos (contra os 580 milhões do ano anterior), 445.186.992 dos quais em Luanda. As províncias que menos produziram foram Cunene e o Cuando Cubango.
Esse número repartido, por 27 milhões de habitantes (na perspectiva do consumo directo) dá a cada angolano cerca 35 ovos por ano ou cerca de três por mês. Segundo o jornal “Correio Braziliense”, a média mundial é de 230 ovos por ano e países como o México, China e Dinamarca atingem as 300 unidades.Em termos nutricionais não há limites no consumo: “se uma pessoa comer 12 ovos por dia, o único risco que ela tem é de ganhar uma medalha olímpica. O consumo de ovo diariamente não faz mal algum”, disse o vice-presidente de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e presidente do Instituto de Ovos do Brasil, Ricardo Santin.
O documento do IDA, a que o Jornal de Angola teve acesso, revela que fazendeiros e as famílias camponesas registaram a maior taxa de produção de tubérculos e raízes, com 10.805.419 toneladas, 2.507. 637 de toneladas de cereais, 567.372 toneladas de leguminosas e oleaginosas, 5.152.940 toneladas de frutas e 1.914.072 toneladas de hortícolas.
O tubérculo mais cultivado em Angola durante aquele período é a mandioca com 8.249.276 toneladas e a província do Uíge foi a que mais produziu, com 1.941.524 toneladas. A produção de batata-doce cresceu 7,8 por cento, mas, a de batata-rena baixou 31,2, ao produzirem-se 461.186 toneladas que proporcionam um consumo “per capita” de 17 quilos por ano ou quilo e meio por mês. A maior cifra do mundo é a da Europa, onde se atinge um consumo de 138 quilos por ano por pessoa.
Mais carne bovina
O relatório assinala o reinício da produção de trigo com 8.505 toneladas,  4.803 das quais no Huambo e 3.602 na Huíla. Ao passo que a produção de arroz, de 9.426 toneladas, destacou o Moxico se obtiveram 3.890 toneladas de feijão, o Bié com 3.069, com as províncias de Malanje e Uíge a integrarem esse restrito grupo.

Produziram-se 2.507.637 toneladas de milho, o principal alimento das populações do Centro e Sul do país e tido como base para a ração animal, como também se cultivaram 313.549 toneladas (11 por cento abaixo do ano anterior), proporcionando uma média “per capita” de 900 gramas por pessoa por mês. O país observou um  défice na produção de carne de aves, a julgar pelo registo de 27.369 toneladas - menos 210 que em 2016 - o que dá num quilo de frango por consumidor num ano.
Os maiores abates aconteceram no Cuanza-Sul com 3.919 toneladas, 3.714 em Luanda, sendo Cabinda eLunda-Norte as que menos produziram, com  121 e 102 toneladas, respectivamente. O documento do IDA declara que o país produziu 21.939 toneladas de carne bovina (mais 718 quilos), o que corresponde a um crescimento na ordem dos 4,00 por cento.
Desta quantidade, 4.962 toneladas foram produzidas em Luanda, 4.293 na Huíla, 59 na Lunda-Norte e 52 em Cabinda.
A produção de carne caprina e ovina diminuiu em seis por cento ao contabilizarem-se 118.287 toneladas, 15.061 das quais em Luanda, seguida de Malanje, Uíge e Cuanza-Sul com cifras médias das 13 mil toneladas. Em baixo ficaram o Bengo com 1.083 e Lunda-Sul com 894 toneladas.
Um copo de leite
O?leite foi produzido nas províncias do Cuanza-Sul (1,197 hectolitros), Luanda (619 ), Huíla (622), Benguela (419) e Namibe (226), o que totaliza 3.259 hectolitros, menos 613 em relação ao ano anterior, um “per capita” de menos de meio litro para cada angolano por ano, provavelmente um copo.

Cerca de 95 por cento da produção agro-pecuária de Angola ocorre entre as famílias camponesas que trabalham de forma rudimentar, à base da enxada e da catana, dependem da chuva, usam sementes sem germinação testada, carentes de adubo e meios de combate às pragas. 
Realidade semelhante vivem os agricultores que têm como agravante a falta de dinheiro para contratar técnicos, dificuldades no acesso ao crédito, falta de meios mecanizados e recurso permanente as motobombas, bastante onerosas devido ao combustível e a assistência técnica. Assim, o rendimento por hectare é baixo, sendo de perto de 800 quilos para o milho entre os camponeses, ao passo que as empresas atingem as 1,9 toneladas, quando em países como França se alcançam as 19 toneladas.
Se no Brasil chega-se às 4,750 toneladas num hectare, em Angola os camponeses colhem 550 quilos de feijão ou ginguba e os fazendeiros 620. O rendimento da mandioca é de 8.200 toneladas e 18.450 toneladas para o tomate.
Os números, disseram agrónomos consultados pelo Jornal de Angola, sugerem ajustamentos imediatos nas políticas públicas para a agricultura e uns a falarem em reforma agrária. 
O agrónomo Joaquim Pedro defende a formação de quadros a vários níveis e especialidades, reparação das estradas terciárias e as de acesso aos campos. Sugere o recurso a mecanização para derruba, lavoura, sacha e colheita, bem como corrente hidroeléctrica nos campos para funcionamento de electrobombas e infra-estruturas de conservação de produtos, criação de fábricas de agroquímicos e fertilizantes.

“O ponto de partida seria lavoura de 400 hectares por município por ano, imaginem o que teríamos em cinco anos?”, indaga Joaquim Pedro, apontando também como condição “sine qua non” estudos de solos, investigação científica, legislação que obriga a empresas a terem agrónomos e acesso a créditos bancários.
Em Março, o ministro da Agricultura declarou, no Bié, que o Governo, fruto dos esforços empreendidos para a solução dos principais problemas dos camponeses, espera que o aumento da produção agrícola ajude, a combater a pobreza e consequentemente a diversificar a economia no país e promover as exportações.

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